Foi aberta nesta terça-feira (07/02) a visitação pública da exposição Guerra e Paz, de Portinari, no Memorial da América Latina, em São Paulo. A exposição apresenta, pela primeira vez em São Paulo, os dois
últimos e maiores murais pintados por Candido Portinari (1903-1962), Guerra e Paz,
que passaram por um minucioso trabalho de restauro, realizado entre
fevereiro e maio de 2011 em ateliê aberto ao público no Palácio Gustavo
Capanema, no Rio de Janeiro. Encomendados pelo governo brasileiro para presentear a sede das
Organizações das Nações Unidas (ONU), em Nova York, os painéis estavam
localizados no hall de entrada da Assembleia Geral e eram de
acesso restrito aos delegados das nações. Nem mesmo durante as visitas
guiadas à ONU as obras podiam ser vistas pelo público, por razões de
segurança. Com a realização de uma grande reforma no edifício-sede da ONU entre
2010 e 2013, o Projeto Portinari, que cuida do legado do artista,
conseguiu a guarda dos painéis para restaurá-los e promover sua
exposição no Brasil e no exterior nesse período. Para marcar o retorno dos painéis ao país, as obras foram
reapresentadas no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em dezembro de
2010, 54 anos depois da primeira e única vez que o público brasileiro e o
próprio Portinari tiveram a oportunidade de vê-las antes de serem
embarcadas para os Estados Unidos. Na época, os Estados Unidos não permitiram a ida de Portinari para a
inauguração dos murais devido às ligações do artista com o Partido
Comunista. Antes de seguirem aos Estados Unidos, o empresário e mecenas
ítalo-brasileiro Francisco Matarazzo Sobrinho (1898-1977), mais
conhecido como Ciccillo Matarazzo, cogitou trazer os murais para São
Paulo, terra natal de Portinari, para apresentá-las ao público paulista.
Porém, seu desejo acabou não sendo concretizado. “Não sei como expressar a felicidade que estou sentindo por apresentar Guerra e Paz
pela primeira vez ao público paulista após o restauro das obras e
também pela oportunidade de levá-las a outros países onde há grandes
embaixadores do Brasil do nosso amor pela arte, da nossa vocação pela
paz, pela fraternidade e pelo respeito às diferenças”, disse João
Candido Portinari, filho do artista e fundador e diretor do Projeto
Portinari na abertura da exposição para convidados, realizada na
segunda-feira (06/02).
“Guerra e Paz são a síntese de uma vida inteira
comprometida com o ser humano. Sua pintura, como sua militância
política, levantou-se contra as injustiças, a violência e as misérias do
mundo”, disse João Candido.
Os murais medem, cada um, 14 metros de altura e 10 metros de largura e
são compostos, ao todo, por 28 placas de madeira compensada naval, com
2,2 metros de altura por 5 metros de largura, que pesam 75 quilos cada
uma. A área total pintada, uma superfície de 280 metros quadrados, é
maior do que a do Juízo Final, de Michelangelo, na Capela Sistina, na Itália.
Pintados entre 1952 e 1956, os murais representam a derradeira obra
de Portinari. Intoxicado pelo chumbo das tintas que utilizava e impedido
de pintar pelos médicos que o acompanhavam, o artista aceitou o convite
do governo brasileiro para criar Guerra e Paz e, depois disso, adoeceu, falecendo em 6 de fevereiro de 1962 – há exatos 50 anos.
Na obra, a guerra é representada em cores vibrantes e chocantes pela
figura de mães que perderam seus filhos – em uma alusão à Pietà, de
Michelangelo. Por sua vez, a paz é retratada em tons pastel por, entre
outras figuras, crianças em gangorras e balanços, pendendo no ar como
anjos, conforme era a intenção do artista.
“Guerra e Paz representam a suprema e derradeira
síntese da obra de Portinari, que é pontuada pelo contraponto entre o
drama e a poesia, o trágico e o lírico, a fúria e a ternura, entre
guerra e paz”, destacou João Candido. “Ele não foi somente um artista
trágico. Também foi o pintor da ternura, do lirismo, da poesia e da
infância.”
Exposição
A exposição ocupa três espaços do Memorial da América Latina. Os
painéis estão expostos no Salão de Atos Tiradentes, em uma cenografia
que lembra uma catedral, e poderão ser vistos pelo público em grupo de
até 150 pessoas, devido à limitação do espaço. Uma apresentação audiovisual de cerca de nove minutos é projetada
sobre uma tela também de dimensões monumentais, entre os painéis, a cada
hora. Já na Galeria Marta Traba, também no Memorial, estão reunidos cerca de 100 dos 180 estudos originais preparatórios para Guerra e Paz
catalogados pelo Projeto Portinari, junto a documentos históricos como
cartas, depoimentos e fotos que contam, em detalhes, toda a trajetória
de criação dos murais. Obras de coleções internacionais vindas de Londres e Milão, como Feras, do Museo del Novecento de Milão, e Mulher Ajoelhada, proveniente de uma coleção particular, também integram esta sessão da exposição. Completa a mostra a Biblioteca Victor Civita, localizada na
Biblioteca Latino-Americana, que apresenta em formato digital a obra
completa de Portinari por ordem cronológica. Pertencente ao Projeto Portinari, o acervo é resultado do
levantamento e catalogação de quase cinco mil obras e, aproximadamente,
30 mil documentos relacionados às obras, vida e época do pintor, nascido
em Brodowski, no interior de São Paulo. “Para nós é um prazer hospedar uma obra como esta e manter viva a
memória de Portinari. O Estado de São Paulo mantém a Casa de Portinari,
em Brodowski, que é um dos museus mais visitados do nosso estado”, disse
Andrea Matarazzo, secretário da Cultura do Estado de São Paulo. Após a passagem por São Paulo, as obras deverão seguir para outras
capitais e países, como Japão e Oslo, na Noruega, onde deverão ser
expostas em dezembro por ocasião da entrega do prêmio Nobel da Paz,
seguindo uma itinerância nacional e internacional que está sendo
planejada até seu retorno à ONU, em 2013.
Exposição Guerra e Paz, de Portinari
De 7 de fevereiro a 21 de abril, terça a domingo, das 9h às 18h
Entrada franca
Memorial da América Latina
Av. Auro Soares de Moura Andrade, nº 664
Agendamento educativo: educativo@portinari.org.br
Mais informações: www.memorial.sp.gov.br.
Entrada franca
Memorial da América Latina
Av. Auro Soares de Moura Andrade, nº 664
Agendamento educativo: educativo@portinari.org.br
Mais informações: www.memorial.sp.gov.br.
Fonte: FAPESP
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