Você já reparou como as bibliotecas estão estruturadas hoje em dia? Pois se quiser guardar a imagem na memória, preste atenção. Dentro de muito pouco tempo a configuração desse espaço sagrado dos livros tende a mudar muito e para melhor. "A biblioteca vai ser mais aconchegante. Espaço agradável, para ficar mais à vontade, com tomadas para ligar os dispositivos eletrônicos. Não será mais aquele lugar estéril", aposta o diretor da Faculdade de Ciência da Informação da UFMG (ex-Escola de Biblioteconomia), Ricardo Rodrigues Barbosa. A pergunta fica: quando esse cenário se tornará realidade?
O protagonismo do digital em feiras como a Bienal do Livro no Rio de Janeiro e o Salão do Livro Infantil e Juvenil de Belo Horizonte mostra que a adaptação das bibliotecas à nova era é urgente. Na verdade, está passando da hora. Afinal, mesmo que o brasileiro não seja um grande frequentador desses espaços, é pela biblioteca que muita gente tem oportunidade de ampliar o contato com a leitura.
No momento em que se comemoram os 100 anos da criação do primeiro curso de biblioteconomia no país, o convite à reflexão sobre o presente e do futuro das bibliotecas demonstra um incrível descompasso. Além de mais espaço para convívio e menos prateleiras com livros, a relação dos cidadãos com o local também tende a se transformar. "Além de ser um espaço onde o jovem vai se sentir confortável, também será o lugar onde vai aprender a lidar com a informação: saber buscar, guardar, organizar, proteger, distribuir e conhecer a qualidade da fonte", completa Ricardo Barbosa.
A velocidade com que a digitalização toma espaço na sociedade é inversamente proporcional à adaptação das bibliotecas brasileiras às novas tecnologias. "Wireless (rede sem fio) a gente não tem. Você acredita? Tem na Praça da Liberdade, mas não tem aqui", comenta Marina Ferraz, coordenadora da hemeroteca histórica da Biblioteca Pública Luiz de Bessa. O motivo? Falta de previsão de recursos. "Temos que fazer o planejamento dois ou três anos antes”, justifica. A principal biblioteca de Minas Gerais oferece apenas 10 computadores para consulta à internet. No acervo de 300 mil livros, nenhum é digital. “Temos planos, conversamos sobre isso, mas sempre esbarramos na questão dos recursos. Precisamos fazer um sistema específico para empréstimos de e-books, por exemplo", planeja Marina.
A situação das universidades é um pouco melhor. Além da rede wireless instalada pelo sistema acadêmico também é possível se conectar a outros acervos, inclusive internacionais. Além disso, Ricardo Barbosa participa de um grupo de trabalho na UFMG, criado para formular processos para lidar com os acervos digitais. "Estudamos como vamos disponibilizar, como será no terminal, em que formato, quais são os mecanismos adotados pelas editoras. Há vários modelos", explica. A universidade planeja a instalação de um centro de digitalização de alta performance.
Apesar de defasada em termos de tecnologia, a Biblioteca Pública já digitalizou 1 milhão de imagens da hemeroteca histórica. O próximo passo, ainda sem data definida, será a integração do banco de dados com a internet. "A pessoa consegue salvar e levar para casa, mas em um futuro vamos conseguir colocar isso na rede", planeja a coordenadora. "Digitalização é uma tendência e uma necessidade", cobra a pesquisadora Aline Lemos. Para fazer seu trabalho em Belo Horizonte, ainda precisa de máscaras e luvas para manejar os jornais históricos, dos quais fotografa as partes de seu interesse. "Facilita muito quando os arquivos estão na internet. Se isso fosse feito aqui, ia ajudar pesquisadores de outros lugares", avalia.
Ao lado dela, também calçando luvas, Getúlio Mendes passa com cuidado as páginas de um jornal do início do século. "É complicado manusear e pode estragar o material. Sei que já tem o acervo digitalizado, mas a expansão será melhor para o usuário", diz. Pesquisador de uma coluna publicada no Estado de Minas em 1931, Lucas Pereira usa dois computadores para trabalhar. Enquanto no da biblioteca observa seu objeto, no pessoal faz os apontamentos.
Informação centenária
O primeiro curso de biblioteconomia no Brasil – e o terceiro da América Latina – foi criado na Biblioteca Nacional, em 1911, no Rio de Janeiro. Por ele passaram professores como Cecília Meireles, Afrânio Coutinho e Sérgio Buarque de Hollanda. Eles ajudaram a criar as bases para os conhecimentos da profissão, hoje tão desafiada pelas novidades tecnológicas. "As bibliotecas atuais precisam ter imagens multidisciplinares, com gente da ciência da informação, da computação e da comunicação", explica Ricardo Barbosa, diretor da Faculdade de Ciência da Informação, da UFMG.
Estudo e trabalho
O administrador Fernando Ribeiro Henriques também comparece diariamente à biblioteca, mas com finalidade bem diferente: faz dali seu escritório. "Como a minha casa está reformando, venho trabalhar aqui. Trago tudo o que preciso", conta. Apesar de satisfeito com o ambiente, Fernando observa que detalhes como a oferta da rede sem fio poderiam fazer que outras pessoas também explorassem a biblioteca não apenas para estudo.
Para muita gente, internet na biblioteca pode parecer item supérfluo, espécie de convite ao lazer. Mas será que a tradicional casa dos livros tem que ser apenas lugar de obrigações com a leitura? Essa é uma ideia que talvez tenha contribuído para a ausência de hábito dos brasileiros de usar a biblioteca. Foi pensando em fazer desse espaço um ambiente de prazer e convívio que a arte-educadora Maria Lívia de Castro inaugurou no Bairro Buritis a Brincante. Com acervo de 6 mil livros, além de espaço para palestras e oficinas, a biblioteca tem feito sucesso com a vizinhança. Enquanto as mães leem um romance, por exemplo, os pequenos brincam e têm contato com o universo da leitura. "As crianças vêm aqui, escolhem o que querem ler, comentam, falam do que gostaram ou não", observa a responsável pelo local, Claudinéia Cavalheiro.
São espaços assim, aconchegantes, que Ricardo Rodrigues Rodrigues imagina para o futuro da biblioteca. Se elas vão ficar cheias, é outra coisa. "A biblioteca cheia é uma questão cultural, tem a ver com educação. No Brasil, infelizmente, não temos essa realidade. Na verdade, tem a ver com o valor que a sociedade dá para a informação", pondera.
Ao lado dela, também calçando luvas, Getúlio Mendes passa com cuidado as páginas de um jornal do início do século. "É complicado manusear e pode estragar o material. Sei que já tem o acervo digitalizado, mas a expansão será melhor para o usuário", diz. Pesquisador de uma coluna publicada no Estado de Minas em 1931, Lucas Pereira usa dois computadores para trabalhar. Enquanto no da biblioteca observa seu objeto, no pessoal faz os apontamentos.
Informação centenária
O primeiro curso de biblioteconomia no Brasil – e o terceiro da América Latina – foi criado na Biblioteca Nacional, em 1911, no Rio de Janeiro. Por ele passaram professores como Cecília Meireles, Afrânio Coutinho e Sérgio Buarque de Hollanda. Eles ajudaram a criar as bases para os conhecimentos da profissão, hoje tão desafiada pelas novidades tecnológicas. "As bibliotecas atuais precisam ter imagens multidisciplinares, com gente da ciência da informação, da computação e da comunicação", explica Ricardo Barbosa, diretor da Faculdade de Ciência da Informação, da UFMG.
Estudo e trabalho
O administrador Fernando Ribeiro Henriques também comparece diariamente à biblioteca, mas com finalidade bem diferente: faz dali seu escritório. "Como a minha casa está reformando, venho trabalhar aqui. Trago tudo o que preciso", conta. Apesar de satisfeito com o ambiente, Fernando observa que detalhes como a oferta da rede sem fio poderiam fazer que outras pessoas também explorassem a biblioteca não apenas para estudo.
Para muita gente, internet na biblioteca pode parecer item supérfluo, espécie de convite ao lazer. Mas será que a tradicional casa dos livros tem que ser apenas lugar de obrigações com a leitura? Essa é uma ideia que talvez tenha contribuído para a ausência de hábito dos brasileiros de usar a biblioteca. Foi pensando em fazer desse espaço um ambiente de prazer e convívio que a arte-educadora Maria Lívia de Castro inaugurou no Bairro Buritis a Brincante. Com acervo de 6 mil livros, além de espaço para palestras e oficinas, a biblioteca tem feito sucesso com a vizinhança. Enquanto as mães leem um romance, por exemplo, os pequenos brincam e têm contato com o universo da leitura. "As crianças vêm aqui, escolhem o que querem ler, comentam, falam do que gostaram ou não", observa a responsável pelo local, Claudinéia Cavalheiro.
São espaços assim, aconchegantes, que Ricardo Rodrigues Rodrigues imagina para o futuro da biblioteca. Se elas vão ficar cheias, é outra coisa. "A biblioteca cheia é uma questão cultural, tem a ver com educação. No Brasil, infelizmente, não temos essa realidade. Na verdade, tem a ver com o valor que a sociedade dá para a informação", pondera.
Fonte: Publicado no Uai Notícias 03/09/2011
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Bibliotecas aconchegantes e com tecnologia só serão realidade no Brasil quando os políticos reconhecerem o seu valor para a cultura nacional. Ainda há escolas que não possuem bibliotecas e quando tem estão em completo abandono. Formar cidadãos críticos depende da colaboração e união da nossa sociedade.
ResponderExcluirEssa realidade do descasso para com a educação e consequentemente o hábito pela leitura, é uma questão que muito se discute mas nada se resolve,infelizmente.Talvez se houvesse um pouco mais de recursos para bibliotecas, estas acompanhariam as novas tendências ,atraindo assim novos usuários...Deixo aqui os meu parabéns a todos os profissionais e futuros profissionais, que fizeram e fazem parte desta história.
ResponderExcluir100 anos com certeza é um longo período.
ResponderExcluirO que me entristece é que apesar destes longos anos de existência do curso, algumas pessoas nos olham como se fossemos loucos quando nos perguntam qual curso fazemos.
É uma questão de educarmos as pessoas de nossa convivência.Por exemplo no meu ônibus os discentes já têm um respeito muito grande pela nossa profissão, sempre me perguntando conceitos de termos, me pedem indicação de sites e documentos para pesquisa, questões de normalização.
Não podemos mudar o mundo mas podemos mostrar ao mundo o quanto nós mudamos nestes 100 anos.