Agência FAPESP – A dinâmica da cultura científica de países
como o Brasil e os ibero-americanos pode ser representada na forma de
uma espiral que, acompanhando o desenvolvimento de suas instituições
voltadas para a prática e produção da ciência, contribui para visualizar
e entender seus traços comuns.
A proposta foi apresentada por Carlos Vogt, professor titular da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em artigo publicado no fim
de outubro na revista Public Understanding of Science.
No artigo, Vogt apresenta o conceito da “espiral da cultura
científica”, que elaborou enquanto presidiu a FAPESP no período de 2002 a
2007, em que iniciou uma reflexão sobre o papel da divulgação da
cultura científica e instituiu em 2003 a Agência FAPESP com o lema “Divulgando a cultura científica”. Com base nessa reflexão, Vogt esboçou a ideia da espiral da cultura
científica e escreveu a primeira versão do texto sobre o conceito, que
foi publicado no Boletim de Ideias nº 3, da FAPESP, em dezembro de 2005. “A ideia era construir uma forma de representação da dinâmica da
cultura científica desde o momento da produção do conhecimento
científico até a apropriação e a circulação dele pela sociedade em
geral, demonstrando como esse processo, que tem características muito
particulares, ocorre de forma organizada, com diferentes atores atuando
em cada uma de suas fases”, disse Vogt à Agência FAPESP. Para representar esse movimento contínuo da produção e circulação do
conhecimento científico, o pesquisador criou uma espiral que gira sobre
dois eixos e quatro quadrantes, que agrupam fatos e acontecimentos
institucionais coincidentes no tempo em países como o Brasil e outros da
América Latina. Dispostos sobre o movimento da espiral, esses fatos e acontecimentos
possibilitam marcar pontos e delinear traços comuns entre esses países
com características econômicas, culturais e sociais similares, além de
apontar especificidades em relação ao relacionamento,às atitudes e a
compreensão de suas sociedades sobre ciência e tecnologia. “A espiral da cultura científica pode ser lida como uma grande
metáfora que ajuda a compreender o processo de construção do
conhecimento e de suas transformações em um determinado espaço
geopolítico”, disse. Na figura da espiral da cultura científica do Brasil e da América
Latina que ilustra o artigo, no primeiro quadrante – o da produção e da
difusão da ciência, que representa o ponto de partida da espiral – estão
relacionados próximos ao período de fundação da FAPESP, em 1962, a
criação do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas
(Conicet, na sigla em espanhol) da Argentina, em 1958, e da Comissão
Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica (Conicyt, na sigla em
espanhol) do Chile, em 1968. Já no segundo quadrante, do ensino da ciência e da formação de
cientistas, estão listadas como acontecimentos coincidentes em 1999 a
criação da revista Pesquisa FAPESP, do Programa José Reis de Incentivo ao Jornalismo Científico (MídiaCiência) da FAPESP e da revista eletrônica ComCiência, do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp, que Vogt coordena. Por sua vez, no terceiro quadrante, do ensino para ciência, foram
destacadas a criação da Estação Ciência, da Universidade de São Paulo
(USP), e do Museu Experimental de Ciências em Rosário, na Argentina,
ambos em 1987.
Por fim, no último quadrante, referente ao ensino de ciências e
formação de cientistas, são listadas a fundação da USP, em 1934; da
Unicamp, em 1966; e da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em 1976.
“Ao evoluir por cada um desses quatro quadrantes, a espiral da
cultura científica retorna ao seu ponto de partida de uma forma
diferente da original devido, exatamente, à própria dinâmica das
transformações pelas quais passa o conhecimento científico”, explicou.
Percepção da ciência
Segundo Vogt, o conceito da espiral da cultural científica pode
funcionar como modelo explicativo e descritivo e uma espécie de
princípio de classificação e organização da cultura científica de
diferentes países, e integra os chamados indicadores culturais de
ciência e tecnologia. Relacionados a estudos sobre a percepção pública da ciência, esses
indicadores têm sido levantados em projetos que envolvem diversos
países, buscando estabelecer relações entre ciência e sociedade, como,
por exemplo, o nível de informação, conhecimento e atitudes de seus
cidadãos em relação à ciência e tecnologia. “Esses indicadores visam identificar traços comuns entre países que
têm uma série de características similares, do ponto de vista econômico,
cultural e social, e especificidades na questão do relacionamento, das
atitudes e da compreensão de suas sociedades em relação aos temas de
ciência e tecnologia”, explicou. Vogt coordenou o estudo sobre indicadores culturais de ciência e
tecnologia referentes especificamente ao Estado de São Paulo, intitulado
Percepção pública da ciência e da tecnologia no Estado de São Paulo, publicado no capítulo 12 dos Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação em São Paulo 2010, lançado pela FAPESP em agosto de 2011. O artigo também introduz o termo bem-estar cultural, segundo Vogt,
"um tipo de conforto, além do bem-estar social, que tem a ver com as
relações da sociedade com as tecnociências, envolvendo valores e
atitudes, hábitos e informação, e que pressupõe uma participação
ativamente crítica por parte da sociedade na totalidade das relações".
Fonte: Agência FAPESP 18/11/2011 Por Elton Alisson
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