Informação tecnológica. Um erro comum no Brasil costuma atrapalhar a relação entre empresas e
universidades: supor que o sistema de inovação de um país funciona com
instituições acadêmicas gerando integralmente o conhecimento e empresas
apenas recebendo as novas tecnologias. Ao contrário: a empresa é um
local privilegiado para gerar conhecimento. A análise foi feita por Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor
científico da FAPESP, durante o Workshop FAPESP-ABC sobre Pesquisa
Colaborativa Universidade-Empresa, que teve início nesta segunda-feira
(7/11), em São Paulo.
Fonte:Agência FAPESP |
Brito Cruz traçou um retrato do setor de inovação no Brasil e, em
particular, das relações entre universidades e empresas. O dispêndio
total de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no Brasil em 2008 foi de
1,09% do Produto Interno Bruto (PIB), o equivalente a R$ 23 bilhões.
Desse total, 54% vieram de fontes públicas e 46% do setor privado. “Podemos verificar que a porcentagem do PIB que o Brasil aplica em
P&D fica abaixo dos países com os quais queremos competir. No
entanto, há uma grande heterogeneidade no país e, se observarmos os
números de São Paulo isoladamente, vemos que o estado tem um dispêndio
de 1,7%, maior que o da Espanha, da Itália e do próprio Brasil”,
destacou. Quando são comparados os quadros de dispêndio em P&D apenas no
setor público, no entanto, as diferenças não são muito grandes entre os
países. No dispêndio governamental, o Brasil investe 0,7% do PIB e
nenhum país passa muito de 1%. “Como se vê, a restrição de investimentos
governamentais não é o principal problema para nosso sistema de
inovação”, disse Brito Cruz. É no dispêndio do setor privado que se encontra a principal diferença
entre os países. Enquanto o dispêndio empresarial em São Paulo é de 1%
do PIB, nos Estados Unidos e Alemanha o investimento é de cerca de 2% e
países como Japão, Coreia do Sul e Suécia investem mais de 2,5%. “Entretanto, nesses países as empresas não enfrentam as graves
restrições que as empresas brasileiras precisam encarar”, disse Brito
Cruz. Segundo ele, as três principais restrições são o custo tributário
gigantesco, o custo dos juros e de um câmbio anômalo – vale mais a pena
investir em aplicações que em pesquisa – e um custo trabalhista imenso. “Não se trata de dizer que as empresas brasileiras não sabem ou não
querem investir em pesquisa. O que ocorre é que elas não conseguem,
porque o peso dessas restrições é muito grande. O ambiente é hostil. Em
São Paulo a situação é um pouco melhor, porque as empresas da região têm
mais competição internacional”, afirmou. Uma das dificuldades enfrentadas pelo sistema brasileiro é o número
de pesquisadores nas empresas: são poucos e com tendência de redução.
“Temos cerca de 133 mil pesquisadores no Brasil, sendo 57% em
universidades e 37% em empresas. A Pintec 2010 mostra uma redução na
quantidade de pesquisadores na empresa”, disse Brito Cruz. O número de pesquisadores nas empresas no Brasil aumentou até 2005,
quando atingiu 50 mil – e caiu entre 2005 e 2008. “O Brasil tem hoje 45
mil pesquisadores em empresas. A Coreia do Sul, com um sétimo da
população, tem 166 mil. E os Estados Unidos têm 1,1 milhão. Nosso
pequeno dispêndio em P&D se manifesta concretamente no pequeno
número de pesquisadores”, afirmou. As patentes em empresas também são um indicador no qual o Brasil
deixa a desejar. A China, segundo Brito Cruz, teve um crescimento
espetacular nesse aspecto: o número de patentes em empresas foi
multiplicado por 10 entre 1994 e 2004. “O número de patentes chinesas registradas nos Estados Unidos em 2004
era de 404 e em 2009 passou para 1.655. O Brasil teve 106 patentes
registradas nos Estados Unidos em 2004 e apenas 103 em 2009. Podemos
verificar uma tendência à estagnação, nesse aspecto, a partir de 2003. A
Espanha, que tem o mesmo número de pesquisadores que o Brasil, tem três
vezes mais patentes”, disse. Brito Cruz destacou que a relação entre universidades e indústria não
se limita aos estudos conjuntos. “Além de pesquisas conjuntas, as
universidades e empresas também estabelecem suas relações na forma de um
fluxo de estudantes, de contatos informais com pesquisadores da
universidade e da empresa, de conferências, de revistas especializadas,
de copublicação, de mobilidade de pesquisadores – que tiram licença para
trabalhar na empresa, ou para fazer um doutorado –, de contratos de
pesquisa, de contratos de patente e licenciamento, de spin-offs e da construção conjunta de laboratórios de pesquisa”, disse.
Fonte: Por Fábio de Castro Agência FAPESP 08/11/2011
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